Home / Filmes / Resenha do Filme: “O pequeno príncipe”

Resenha do Filme: “O pequeno príncipe”

Filme O pequeno príncipe
b3d4d o2bpequeno2bpr25c325adncipe 2

Filme: O pequeno príncipe

Direção: Mark Osborne

Produção: Dimitri Rassam; Aton Soumache; Alexis Vonarb

Roteiro: Irena Brignull; Bob Persichetti

Produtora: Onyx Films; Orange Studio; On Entertainment 

Baseado em: Livro “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry

Ano de lançamento: Agosto de 2015

Tempo de duração: 1h48

Classificação indicativa: Livre

Onde assistir: PrimeVideo; YouTube; Mercado Livre

Sinopse

Dirigido por Mark Osborne (Kung Fu Panda), “O pequeno príncipe” é um tributo a obra popular de Antoine de Saint-Exupéry, que foi traduzido em mais de 250 línguas e já vendeu mais de 145 milhões de cópias em todo o mundo. O filme é centrado na amizade entre um excêntrico senhor, o Aviador, e uma garotinha bem crescida, que se muda para a casa ao lado com sua Mãe.

Através das páginas desenhadas pelo Aviador, a Menina descobre a história de como ele, há muito tempo, caiu em um deserto e encontrou o Pequeno Príncipe, um menino enigmático de um planeta distante. As experiências do Aviador e o conto das viagens do Pequeno Príncipe para outros mundos fazem a Menina e o Aviador ficarem muito próximos, embarcando juntos em uma aventura memorável.

Filme “O pequeno príncipe”

Ser adulto não é o problema, esquecer é que é

O filme “O pequeno príncipe” traz uma releitura do doce clássico de Antoine de Saint-Exupéry. Mark Osborne, seu diretor, consegue trazer as telas uma reinterpretação, carregada da mais sublime delicadeza, emocionalmente fascinante. Esta obra, feita em animação, mistura poesia e filosofia, nos trazendo a pureza do olhar de uma criança. E nos fazendo reencontrar o que é essencial, mesmo em meio a correria da vida adulta e moderna. Nos fazendo olhar com o coração e sentir o que há muito tempo possamos ter esquecido.

Em um mundo que se tornou adulto demais, temos uma mãe planejando toda a vida de sua filha. Uma garotinha inteligente e disciplinada, que aos poucos, mesmo criança, se torna um retrato de um adulto que já havia perdido o seu mundo da imaginação, vivendo a padronização que cerca o mundo deles.

O início de tudo em “O pequeno príncipe”, se dá quando essa garotinha não consegue passar na entrevista da Academia Werth, para a qual treinou muito. E não desistindo do plano que traçou para a vida de sua filha, a mãe monta um plano B, onde cada minuto do dia, cada dia da semana, cada semana do mês, cada mês do ano é calculado e organizado, tudo em prol desse plano de vida, e o primeiro passo era entrar nessa academia de ensino.

Para seguir com o plano, elas acabam se mudando de casa. Vão morar em um lugar onde todos vivem dentro do mesmo padrão, mesmos comportamentos, sincronizados no mesmo ritmo, todos iguais, sem que nada os diferencie, uma monotonia em tons frios, cinzentos e opacos, à exceção de uma pessoa, que mora em uma casa colorida e que tem um jardim encantador, o vizinho delas, o Aviador.

Um velhinho excêntrico, que a garotinha acaba conhecendo quando esse, ao tentar ligar o avião que fica em seu quintal, tem a sua hélice atravessando o muro e a parede da casa dela. Ela chama a polícia e o velhinho para lhe compensar pelo estrago, entrega a ela um pote cheio de moedas. A mãe chegando em casa e se deparando com os danos, decide que ambas vão esquecer a existência desse senhor.

Tentando se desculpar pelo acidente, vemos o Aviador entregando a mãe uma rosa e para a garotinha uma história. Ele apresenta a ela a incrível história do Pequeno Príncipe, lhe enviando em formato de aviãozinho as primeiras páginas. Ela, obviamente, ignora tais papéis, tal como a mãe ignora a rosa, pois não fazem parte do seu cronograma. Mas entre suas tarefas, tinha aquela de organizar as moedas que estavam dentro do pote dado pelo Aviador. E ali ela encontra pequenos objetos coloridos que referenciam a história.

Curiosa, ela pega as folhas novamente. “Era uma vez um Pequeno Príncipe, que habitava um planeta um pouco maior que ele e que tinha necessidade de um amigo…” Ao passar os olhos pelo início da história, se enche de dúvidas quanto aos fatos, tal como um adulto, e decide ir até o Aviador para tirá-las. Atravessando o buraco em seu muro, feito pela hélice, como se atravessasse uma fenda para outro mundo, assistimos a garotinha e o Aviador darem início a uma doce e cativante amizade.

o pequeno principe 1
Cena do filme “O pequeno príncipe”, dirigido por Mark Osborne.

Sua mãe não aprovando amizades nesse momento, pois não caberia dentro do seu cronograma para o objetivo traçado, a garotinha passa a fingir que faz todos os seus afazeres, escondendo da mãe o mundo novo que descobriu com a história do Pequeno Príncipe e com essa nova amizade. Um mundo de cores, luz e brilho. Estrelas, risadas e imaginação. Um mundo de afeto.

As páginas do conto ganham vida, mostrando o garotinho que se apaixona por uma rosa e tem por amiga uma raposa, que viaja por planetas buscando aprendizado. E através das experiências dele, a garotinha se vê transformada. Se permitindo sentir e viver de uma maneira única. Descobrindo que crescer não significa deixar para trás a imaginação e que, às vezes, é preciso se perder um pouco para então se encontrar de verdade.  

O filme “O pequeno príncipe” gira em torno da lição principal que o livro nos traz, o essencial é invisível aos olhos. Ele cria um contraste entre o mundo dos adultos, repleto de metas, horários e expectativas, e a liberdade de ser e estar da criança, a simplicidade do olhar infantil. Nos fazendo lembrar do que realmente importa, o afeto, o cuidado e a capacidade de se encantar por aquilo que nos cerca, ainda que seja pequeno, pelo que temos e ainda mais por quem temos ao nosso lado. A capacidade de se encantar com a vida.

Essa crítica sobre o mundo moderno, por vezes mostrada de maneira sutil, nos faz questionar. Estamos vivendo ou nos tornando apenas um número dentro das estatísticas que permeiam a obsessão por produtividade? É isso que somos, só mais um número? Fazemos tudo o que fazemos para sermos aceitos, mas nós nos aceitamos? Fazemos tudo o que fazemos para sermos bem-sucedidos, mas quem é que define o que é ser bem-sucedido? Estamos felizes, realmente felizes, seguindo o caminho em que estamos? Esquecemos completamente a criança que fomos um dia? E como estamos tratando as nossas crianças? Estamos lhes permitindo a infância ou estamos introduzindo-as cada vez mais cedo no mundo adulto?

A história toda de “O pequeno Príncipe” nos mostra que, às vezes, a pergunta mais importante esta escancarada em nossa frente, mas somos cegados pelo que o mundo adulto faz e cobra de nós, e tendo abandonado o olhar único da criança que fomos um dia, não a enxergamos. E conforme vamos crescendo, vamos esquecendo como ver e sentir a vida, o valor do nosso tempo e sobre como o afeto está acima de qualquer posse.

O filme fala sobre cativar e criar laços, nos levando a uma reflexão sobre presença afetiva, quanto e como estamos dedicando nosso tempo a quem amamos. É mais do que sobre amor, é sobre como amar. E fala sobre perdas, deixando claro que sim, nos permitir cativar pode nos trazer algumas lágrimas em determinados momentos, mas isso só mostra o quanto valeu a pena viver tudo, e o quão importante é não se esquecer disso.

O pequeno príncipe” nos fala sobre o tempo, nos fazendo pensar sobre a importância em desacelerar, contemplar a vida em sua magnitude, bem como quem temos na vida, o que mais importa pode não ser visível aos olhos, mas certamente é perceptível para a alma. E nos mostra o risco de esquecermos quem fomos e ao mesmo tempo a beleza de redescobrirmos a criança que ainda habita em nós. Crescer, com certeza, não é deixar de sonhar.

O filme também é uma experiência visual encantadora. Levou quase oito anos para ser produzido, devido ao cuidado com os detalhes e à combinação de duas técnicas de animação, o 3D digital, usado para retratar o mundo real da garotinha, e o stop motion, feito com papel e texturas delicadas, para retratar o universo do Pequeno Príncipe. O contraste entre as técnicas, escolhidas justamente para esse simbolismo, reflete a diferença entre o pragmatismo adulto e a imaginação infantil. Não é atoa que o filme acabou vencendo o “César de Melhor Filme de Animação” em 2016, principal prêmio do cinema francês.

O pequeno príncipe” é uma reflexão sobre quem fomos, quem somos e quem ainda podemos ser. É sobre o que não se compra, não se mede, não se explica. É sobre aquilo que apenas se sente. Tudo isso em uma linguagem que fala tanto com as crianças quanto com os adultos, em camadas diferentes é claro, sendo simples e extremamente profundo ao mesmo tempo.   

E você? Já parou para olhar as estrelas hoje?

Assista e depois venha aqui me contar o que achou. E caso não tenha lido o livro “O pequeno príncipe”, eu recomendo muito, é daqueles que tocam e transformam nossas vidas.

Marcado:

6 Comentários

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *