
Título: O meu pé de laranja lima
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Ilustrações: Jayme Cortez e Laurent Cardon
Editora: Melhoramentos
Ano: 2019
Páginas: 232
Classificação Indicativa: 11 anos e acima
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Conteúdo
Sinopse
Em “O meu pé de laranja lima“, o protagonista Zezé tem 6 anos e mora num bairro modesto, na zona norte do Rio de Janeiro. O pai está desempregado, e a família passa por dificuldades. O menino vive aprontando, sem jamais se conformar com as limitações que o mundo lhe impõe – viaja com sua imaginação, brinca, explora, descobre, responde aos adultos, mete-se em confusões, causa pequenos desastres. As surras que lhe aplicam seu pai e sua irmã mais velha são seu suplício, a ponto de fazê-lo querer desistir da vida. No entanto, o apego ao mundo que criou felizmente sempre fala mais alto. Só não há remédio para a dor, para a perda. E Zezé muito cedo descobrirá isso.
A alegria e a tristeza não poderiam estar mais bem combinadas do que nestas páginas. E isso, se não explica, justifica a imensa popularidade alcançada pelo livro “O meu pé de laranja lima”. (Luiz Antonio Aguiar)
Livro “O meu pé de laranja lima”
História de um meninozinho que um dia descobriu a dor
Uma história profundamente humana, com uma escrita sensível e tocante, narrado sob o olhar e a inocência de uma criança e capaz de despedaçar seu coração (certamente despedaçou o meu). No livro “O meu pé de laranja lima“, José Mauro de Vasconcelos nos leva a muitas reminiscências de sua infância, através do pequeno Zezé. Um garotinho que encontra no mundo da imaginação e na amizade com um pequeno pé de laranja lima, um refúgio e confidente de suas dores, o que o ajuda a suportar a dureza da realidade que o cerca.
Zezé é um menino de cinco para seis anos extremamente inteligente, tanto que aprende a ler sozinho e antes mesmo de entrar para a escola. Ele é doce, gentil e sensível. E muito travesso também, sempre com uma “pegadinha” capaz de enlouquecer seus vizinhos. Muito curioso e observador, e ainda que não compreenda o porquê de muitas coisas, acaba por amadurecer cedo demais por causa delas.
Com sua família sendo marcada pela pobreza, tendo seu pai desempregado e sua mãe trabalhando muito por pouco, Zezé acaba tendo que lidar com situações, desde cedo, que mostram o quanto a vida pode ser dura, fazendo-o amadurecer mais rápido do que as crianças da sua idade. O livro “O meu pé de laranja lima” mostra de maneira marcante o contraste da criança que teve uma ceia farta e que brinca com seus presentes de Natal, enquanto a família de Zezé mal tem o que comer e ele dando seu brinquedo para que seu irmão mais novo não ficasse sem ganhar nada neste dia, ou mesmo ele saindo para trabalhar de engraxate no dia do Natal para ganhar uns trocados.
Vindo de uma família numerosa, onde a mãe passava a maior parte do dia trabalhando e o pai procurando emprego, acabava que os filhos mais velhos ficavam com a responsabilidade sobre os filhos mais novos, em cuidados, zelo e educação. E é aqui que Zezé encontra a ausência do que toda criança tem que receber e o excesso do que nenhuma criança deveria conhecer. Apesar de todo o seu espírito vivo, o seu fantástico mundo da imaginação e de todas as travessuras que o divertem, sua infância é atravessada pela falta de afeto e compreensão e pela violência doméstica, verbal e física, vinda da maioria daqueles que deveriam o proteger.

Em meio a esse cenário, quando a família muda de casa, Zezé encontra um pequeno pé de laranja lima e faz dele um amigo especial. Esse pequeno pé, que ganha vida na imaginação do garoto, se torna seu companheiro de aventuras, confidente de seus sentimentos, com quem compartilha seus sonhos e aquele espaço no fundo do quintal um refúgio contra as dores do mundo real. E é aqui, onde a fantasia e a realidade se fundem, que o livro “O meu pé de laranja lima” nos aproxima de toda a sensibilidade dessa criança e da força emocional de toda a sua narrativa.
Outro ponto marcante que o livro “O meu pé de laranja lima” traz é a amizade. Seja com o pequeno pé que ele encontra no fundo do quintal ou com os personagens adultos que cruzam seu caminho, como a professora, o cantor, e especialmente o português, Zezé revela a necessidade essencial de todo ser humano de ser visto, ouvido, compreendido e amado, principalmente apesar de seus erros. Todo o diálogo entre esses personagens e Zezé mostram o contraste entre a inocência do olhar infantil sobre a vida e a rigidez do mundo adulto, e como esse é capaz de quebrar o primeiro. Isso acaba por dar a obra uma intensidade única, capaz de emocionar leitores de todas as idades.
É através da imaginação que Zezé encontra uma forma de sobreviver ao que tem de mais sombrio em sua vida. Sua resistência é sua imaginação. Ela o faz criar mundos, viver aventuras e encontrar um pouco de alívio para sua tristeza e solidão. E de maneira muito doce ele passa isso ao seu irmão mais novo, tentando preservar toda a inocência dele, ainda que a sua já estivesse sendo arrancada antes do tempo.
No entanto o que faz com que Zezé queira mais do que apenas sobreviver é na verdade a ternura. A defesa de sua irmã Glória, o carinho de seu irmão Luís, a crença de sua professora em seu coração, o respeito do seu amigo cantor pelo seu esforço e acima de tudo sua amizade com o português, quem lhe deu paciência, respeito, escuta, compreensão, orientação, cuidado, sorrisos e principalmente ternura. Frente a toda violência doméstica que sofria e a uma grande ausência de afeto, foi esse olhar terno que o salvou um dia. A ternura que foi aos poucos cicatrizando as feridas que a realidade dura e a rigidez da vida adulta fizeram em sua infância.

Gostaria de dizer que é assim que se encerra, esse garotinho recebendo toda a ternura que merece, mas a vida é feita de ciclos, e Zezé acaba tendo que lidar com o fim de um. Uma dor muito profunda, que dilacera por dentro, e que mesmo os adultos têm dificuldade ao lidarem com ela. O luto. O que dor tamanha pode ocasionar em uma criancinha de 5 anos? O quanto isso pode transformá-la? Como isso muda a maneira como ela enxerga o mundo? A ternura, quando bem plantada, é capaz de persistir?
Mesmo tendo sido publicado há mais de cinco décadas (1968), o livro “O meu pé de laranja lima” continua atual e extremamente necessário. Abordando temas universais de maneira delicada e, ao mesmo tempo, profundamente impactante. A pobreza e a violência doméstica na narrativa nos mostram um retrato de uma realidade dura e cruel, onde muitas vezes falta espaço para o acolhimento e o afeto. Lembrando-nos que o existir das crianças deve ser respeitado e que a sensibilidade das crianças precisa ser ouvida e acolhida.
A obra e vida de José Mauro de Vasconcelos nos mostra como a imaginação pode ser uma poderosa ferramenta de sobrevivência emocional. Um pequeno pé de laranja lima se torna símbolo de resiliência e esperança em meio a todo o caos e dureza da vida. Para uma criança, um refúgio, um lugar seguro para celebrar e depositar suas dores. Para um adulto, talvez simbolize a força que buscamos ao enfrentar momentos difíceis, seja em pessoas, em lembranças ou em pequenos gestos que nos marcaram e nos mantém seguindo em frente.
O livro “O meu pé de laranja lima” nos faz refletir muito sobre a infância e a vida adulta, a imaginação e a realidade, as alegrias e as dores da vida, e principalmente sobre a importância da ternura e da presença afetiva, um livro com uma narrativa simples, mas profundamente emocionante, capaz de tocar leitores de diferentes idades e contextos.
Eu sou apaixonada por livros que tocam a alma, exatamente como esse. Recomendo muito o livro “O meu pé de laranja lima“! Se interessou? Dá uma chance. Leia e depois venha aqui me contar o que achou.
Curiosidades: Adaptações para cinema e televisão
O sucesso do livro “O meu pé de laranja lima” foi tão grande que ultrapassou as páginas e ganhou vida em diferentes formatos artísticos.
A história de Zezé em “O meu pé de laranja lima” foi adaptada para o cinema 2 vezes: em 1970, em um filme, dirigido por Aurélio Teixeira; e em 2012, em um filme dirigido por Marcos Bernstein. Ambos buscando transmitir a intensidade emocional da obra.
Na televisão, a história de Zezé em “O meu pé de laranja lima” foi adaptada 3 vezes em telenovelas: em 1970, escrita por Ivani Ribeiro e dirigida por Carlos Zara, exibida pela TV Tupi; em 1980, também escrita por Ivani Ribeiro, e exibida pela Rede Bandeirantes; e em 1998, escrita por Ana Maria Moretzsohn e dirigida por Henrique Martins, também produzida pela Rede Bandeirantes. As obras aproximaram a história de novas gerações, permitindo que o público acompanhasse a sensibilidade do enredo em imagens e diálogos.
Essas adaptações da obra literária, ao longo dos anos, ajudaram a manter essa história viva. Apresentando o pequeno Zezé e suas descobertas a espectadores que, muitas vezes, conheceram o personagem primeiro na tela, antes mesmo de abrir o livro.






9 Comentários
Só por essa resenha, eu já estou com vontade de ler essa história!!
Tenho certeza que vai ser uma leitura incrível!!
Depois venha me contar o que achou 😉🥰
Adorei a resenha! Mesmo que o livro não seja do tipo que costumo ler – sou mais dos romances leves e açucarados e menos dos que me fazem chorar kkkk😅– a forma como você escreveu foi tão envolvente e sensível que me faz querer ler a história no futuro e com certeza vou pedir a sua opnião para outros titulos tambem 😉. Você conseguiu transmitir com delicadeza a profundidade de um tema delicado e sensível. Parabéns pelo texto!”
Obrigada pelo comentário 🥰
Se algum dia ler, venha aqui me contar o que achou. E vou querer indicações de romances açucarados também. ADORO ! 🤩
Só pela indicação, não vejo a hora de ler esse livro. =)
Depois venha aqui me contar o que achou! 😉🥰
Confesso que fiquei curioso com a história desse menininho, saber o que aconteceu com ele… Amo a maneira como você escreve!
Obrigada 🥰
Caso leia uma dia, venha aqui me contar o que achou. 😉