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Resenha do livro: “100 pedaços de mim”

100 Pedaços de Mim
Livro 100 pedaços de mim

Título: 100 pedaços de mim

Autor: Lucy Dillon

Tradução: Natalie Gerhardt

Capa: Renata Vidal

Editora: Arqueiro

Ano: 2021

Páginas: 416

Classificação Indicativa: 14 anos e acima

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Sinopse

Em “100 pedaços de mim“, depois de um fim de relacionamento difícil, Gina Bellamy ainda está tentando se recuperar e descobrir como viver sozinha. De repente, ela se dá conta de que os objetos aos quais deu valor durante tanto tempo simplesmente não se encaixam mais em seu novo momento.

Determinada a recomeçar do zero, Gina decide se livrar de todas as coisas materiais, exceto as 100 que considera imprescindíveis. Mas o que vale a pena preservar? As cartas do único homem que ela já amou? Uma lembrança do pai que nunca conheceu? Ou um vaso de vidro azul que capta perfeitamente a luz do sol entrando pela janela, mesmo nos dias mais cinzentos?

À medida que deixa o passado para trás, Gina relembra tudo de bom que já aconteceu em sua vida e também se reconcilia com as coisas ruins. Durante esse ritual de autoconhecimento, descobre que todos os dias têm algo para ser aproveitado. E quando ela decide fazer exatamente isso, abre espaço para que a mágica aconteça…

Livro “100 pedaços de mim”

O que nos faz feliz esse ano talvez não nos faça mais no ano que vem

Será que existe o timing certo para ler determinado livro? Ganhei o livro “100 pedaços de mim”, da Lucy Dillon, após um término de relacionamento, o dito cujo me sendo vendido como a história de uma mulher superando o seu divórcio. Não tenho certeza sobre a resposta para essa pergunta, mas ainda bem que não o peguei para ler naquela época, eu certamente não o teria apreciado tanto e nem me encantado com toda a delicadeza de sua narrativa.

É sim sobre fechar ciclos e evoluir a partir disso, mas a história de “100 pedaços de mim” vai tão mais além do que a simplista ideia de uma mulher superando um rompimento. Eu o segurei nas mãos no exato momento em que era capaz de compreender sua mensagem e ser transformada por ela.

Há livros que contam histórias e há livros que nos convidam a olhar para dentro das nossas próprias histórias. Refletir sobre nossas escolhas e a maneira como estamos vivendo, qual o valor das nossas experiências e se estamos de fato apreciando isso. Esse romance contemporâneo acompanha uma mulher não apenas recomeçando sua vida, mas reavaliando o que realmente importa, o que vale manter e por que manter, e o que é necessário deixar partir. É mais do que uma história de desapego, é sobre autoconhecimento. A personagem nos faz pensar em como nossas escolhas, memórias e afetos moldam quem somos ou quem queremos ser. E como, às vezes, podemos nos perder de nós mesmos no meio no caminho.  

No livro “100 pedaços de mim“, Gina Bellamy está enfrentando mais um momento de transição em sua vida. Após descobrir uma traição do seu marido Stuart, seu casamento termina, e com isso mudanças precisam ser feitas. A casa enorme e perfeita para se morar, reconstruída por eles mesmos e decorada por ela, acaba de ser vendida. E agora ela se encontra em um apartamento pequeno, todo branco e com caixas e mais caixas de tudo o que ela guardou ao longo dos seus 33 anos. Chegou a hora de recomeçar e o primeiro passo é desencaixotar uma vida antiga para uma vida nova.

Em meio aos diversos livros de autoajuda que lhes foram dados para ajudar a enfrentar toda essa situação, um deles contava a história de um homem que se sentiu mais livre ao se desfazer de quase tudo que tinha e ficar só com 100 itens vitais. No entanto será que é possível se livrar de tanta coisa e manter alguma parte de si mesmo? Ou o objetivo é exatamente esse, focar em ser você mesmo, em vez de depender de coisas que expliquem quem você é?

Olhando aquele montante de caixas por todo o apartamento, Gina, acumuladora assumida, apegada ao seu passado e a tudo ao que se remete a ele, resolve tentar fazer o mesmo. Começando o seu próprio detox, separou quatro caixas, MANTER, VENDER, DOAR e JOGAR FORA. Manteria apenas o que a fizesse feliz, e o que fosse útil, de preferência que fossem os dois. E o com o dinheiro que arrecadasse com as vendas compraria algo bem especial para ela. Mas cada objeto carrega uma história, um sentimento ou uma memória, e desapegar-se não é tarefa simples.

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Frase do livro “100 pedaços de mim” de Lucy Dillon

A longo de todo esse processo, cada objeto faz Gina revisitar momentos e sentimentos marcantes, lembranças doces e divertidas, memórias dolorosas e carregadas de culpa. Reencontra a adolescente que foi um dia e os sonhos que continha, e a compara com a adulta que é agora. Repensa as escolhas que fez e porque ou por quem as fez. E descobre em meio a essa jornada de desapego, narrada com delicadeza e emoção, que deixar ir também pode ser um caminho para encontrar a si mesma, que ao se desfazer daquilo que já não lhe cabe mais, o que fica é essência.

O livro “100 pedaços de mim” navega entre presente e passado, e este nem sempre em ordem cronológica dos fatos, mas da melhor maneira para que nós leitores possamos compreender os pensamentos e emoções de Gina ao lidar com determinados objetos e situações no presente, e também para manter um certo mistério sobre algo do passado que lhe instiga a culpa.

No passado, acompanhamos um pouco da sua condição de saúde e tudo o que essa transformou em sua vida. Conhecemos seus relacionamentos familiares, a mãe e o padrasto, a sua amizade com Naomi, como começou e o valor que ela tem para Gina, e seus interesses amorosos, desde o seu primeiro amor até o Stuart, passando por como se conheceram e quando e como se casaram… O que não deveria ter feito? Ou que gostaria de ter feito? Quais erros foram cometidos com ela? Ou quais erros que ela cometeu?

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Frase do livro “100 pedaços de mim” de Lucy Dillon

No presente temos Gina seguindo com a sua rotina. Entre reuniões com o advogado para lidar com seu divórcio, o desespero de sua mãe com o rumo da sua vida, o apoio total de sua melhor amiga e as doações constantes para os abrigos mais próximos de seu apartamento, ela também segue com o seu trabalho, tentando ocupar o seu dia e a sua mente. 

Após ser demitida da prefeitura, onde trabalhava no departamento de conservação imobiliária, Gina montou a sua própria empresa de gerenciamento de projetos, a Stone Green, onde atua orientando e coordenando reformas. Dentre os seus projetos, havia um encomendado por sua amiga Naomi e um para a reforma da casa dos seus sonhos. Seus clientes, o casal Amanda e Nick, ela sócia de uma firma de advocacia americana e ele fotógrafo (❤️), haviam comprado a casa que ela desejou ter enquanto procurava um lar junto com o Stuart.

E é nesse cenário de “100 pedaços de mim“, que Gina ganha três amizades diferentes, que vão ajudá-la a compreender mais de si mesma, a entender que mesmo um pequeno passo, é um passo, e que talvez, na sua lista de 100 coisas, nem tudo seja sobre objetos específicos ou a importância deles. E que recomeçar, apesar de assustador, pode ser libertador…   

Buzz, um cachorro da raça Galgo, que foi maltratado e abandonado por um homem, e que precisa do seu próprio recomeço. Rachel, que trabalha no abrigo de animais, e que já viveu um divórcio e teve que recomeçar do zero também. E Nick, o cliente fotógrafo, que ao saber do projeto de 100 coisas, e depois de uma boa discussão sobre ser o objeto ou a sensação causada por ele o que realmente importa, propõe algo diferente, fotografar suas vivências, o que for marcante ou mais importante para ela. Afinal, estariam as pessoas muito apegadas a coisas quando na verdade, deveriam acumular momentos?

E assim, entre passado e presente, vemos Gina compreendo um para então viver o outro, aceitando e abraçando um para então andar de mãos dadas com o outro. Vemos a personagem olhando mais para si e sobre como esta reagindo a tudo, do que olhando apenas para o que foi feito a ela. Aceitando quem foi um dia, suas escolhas, as mudanças a partir delas, e quem é agora. Sendo além de sincera, gentil consigo mesma. E compreendo o que realmente vale carregar conosco, o que realmente importa em nossa passagem por aqui. Com uma câmera na mão, Gina passa a procurar pelos momentos de felicidade ao invés de esperar que eles acontecessem…

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Frase do livro “100 pedaços de mim” de Lucy Dillon

Em “100 pedaços de mim“, temos uma personagem extremamente realista, e não apenas porque passa por momentos que podem atingir a qualquer um de nós, mas justamente por não ser perfeita e não ter respostas prontas para nenhum dos dilemas de sua vida. Construída de uma forma sensível, a personagem carrega medos, incertezas e fragilidades, por vezes se vendo perdida ou confusa, e vai se refazendo à medida que tudo acontece, tal qual qualquer um de nós.

O projeto de escolher 100 objetos vitais para manter consigo, é mais do que um simples desapego, vai além de uma questão prática de se desfazer daquilo que não cabe no espaço em que se vive no momento, é um exercício de libertação emocional, um processo profundo de autoconhecimento que leva a personagem a ressignificar memórias, permitindo ir o que já não faz mais sentido, fechando ciclos e abrindo espaço para viver novas possibilidades, abrindo espaço para descobrir mais de si mesma.

E nada acontece de maneira instantânea no livro, é uma trajetória gradual, com altos e baixos, dúvidas e recaídas, o lado do outro e o olhar para si, descobertas e redescobertas. Uma trajetória muito humana, que nos mostra que para recomeçar é necessário coragem, mas principalmente gentileza consigo mesma.

A narrativa do livro “100 pedaços de mim” toca em questões e sentimentos universais, podendo despertar identificação em diferentes leitores. Do desapego ao recomeço, sobre relações pessoais e emocionais, do apego ao passado a lembranças que se entrelaçam com a sua identidade, sobre autoconhecimento e também cura emocional. Lucy Dillon, de maneira muito envolvente, trata de todos esses temas sem cair em exageros ou sentimentalismos forçados. É uma leitura fluída e suave, que equilibra os momentos de introspecção com diálogos e situações cotidianas, nos aproximando da realidade da personagem, de suas emoções, descobertas e transformações.

Confesso aqui que a maneira como ela finaliza a história não costuma ser uma das minhas favoritas, mas cabe tão bem a mensagem que ela tenta passar ao longo de toda a trajetória de Gina, que ao ler os últimos parágrafos me encontrei entre lágrimas e um sorriso. Fechei o livro, acompanhando o ato com um longo suspiro. Emociona e inspirada. Transformada. E como gateira assumida, confesso também que foi o primeiro livro que me despertou a vontade de ter um Buzz.

Acompanhar a vida de Gina em “100 pedaços de mim“, nos faz refletir sobre a nossa própria relação com o passado e com tudo que guardamos dele. Sobre em que tempo que estamos vivendo. Sobre fechar ciclos. Nos leva não só a pensar em nossas escolhas, mas a assumirmos as nossas responsabilidades por elas. Nos leva a pensar se valorizamos o nosso agora tanto quanto deveríamos. E acima de tudo isso, não nos condenarmos, olharmos para nossas próprias vidas com mais leveza, compreendendo que enquanto estamos aqui, ainda há vida para se viver.   

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Frase do livro “100 pedaços de mim” de Lucy Dillon

Sou suspeita para falar de qualquer livro que faça menção sobre os efeitos que uma câmera fotográfica pode ocasionar em nossas vidas, mas recomendo muito o livro “100 pedaços de mim“! Se interessou? Dá uma chance. Leia e depois venha aqui me contar o que achou.

Curiosidades

No ano de 2015, o livro “100 pedaços de mim“, de Lucy Dillon, foi premiado como o melhor livro de romance do ano, pela RNA – Romantic Novelists’ Association (Associação de Romancistas Românticos).

Hoje em dia, o livro faz parte da coleção “Romances de Hoje“, da Editora Arqueiro. Segundo a editora, essa coleção, que reúne obras com histórias inspiradoras e de superação, é focada no empoderamento feminino e em momentos de diversão para as leitoras.

E por último, nesta edição do livro “100 pedaços de mim“, após os agradecimentos, há uma entrevista com a autora e também um texto falando sobre os cachorros da raça Galgo, bem como a menção de muitas instituições que cuidam do bem-estar e proteção de animais aqui no Brasil.

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