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Resenha do Livro: “Os miseráveis”

Livro Os miseráveis
Livro Os miseráveis

Título: Os miseráveis

Autor: Victor Hugo

Tradução: Regina Célia de Oliveira

Ilustração de capa e guarda: Julio Carvalho

Editora: Martin Claret

Ano: 2014

Páginas: 1.511

Classificação Indicativa: 16 anos e acima

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Sinopse

Os miseráveis” é um clássico da literatura mundial, esta obra é uma poderosa denúncia a todos os tipos de injustiça humana. Narra a emocionante história de Jean Valjean, o homem que, por ter roubado um pão, é condenado a dezenove anos de prisão. Os miseráveis é um livro inquietantemente religioso e político, com uma das narrativas mais envolventes já criadas.

Enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis.

Livro “Os miseráveis”

É realmente necessário que a sociedade olhe para essas coisas, já que é ela que as produz

Os miseráveis”, de Victor Hugo, é um daqueles livros que perduram no tempo. Mesmo tendo sido publicado em 1862, sua história segue extremamente atual, haja vista a quantidade de misérias, mundialmente falando, que a sociedade carrega. O autor, através das suas 1.500 páginas, faz um retrato minucioso e comovente da sociedade francesa do século XIX, expondo muitas das misérias humanas, materiais e espirituais, expondo desigualdades e injustiças, expondo a luta pela dignidade, seja em batalha externa, através de suas armas, ou interna, através da própria consciência.

Victor Hugo nos apresenta um verdadeiro estudo sobre a alma humana, seus tropeços e suas quedas, suas escolhas e suas intenções, a salvação e a redenção. Nos fala sobre o desespero e a esperança, a ganância e a bondade, a maldade e a inocência, a justiça enquanto lei e o que é justo enquanto humanidade. Nos levando a nos questionar sobre o quanto uma alma pode se transformar diante de um destino ruim ou o quanto pode ser refeita diante de um ato de compaixão?

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Em “Os miseráveis” encontramos a história de Jean Valjean. Um homem que veio de uma pobre família de camponeses e que perdera os pais ainda novo. Foi criado pela irmã mais velha, que já estava casada e tinha 7 filhos. E quando essa se tornou viúva, ele tomou o lugar de pai das crianças, amparando a irmã e aos pequenos sobrinhos, como ele fora amparado um dia por ela. Vivendo para eles e por eles, nunca se apaixonou por ninguém.

Jean trabalhava como podador, ceifeiro, cavador e ajudante de fazenda. Mas em um inverno rigoroso, acabou ficando sem trabalho e a miséria foi os envolvendo pouco a pouco. Não tinham sequer um pão para comer e ao olhar para as 7 crianças o desespero tomou conta. Quebrou a vidraça de um padeiro para roubar pão, foi pego pelo dono e condenado pela justiça a 4 anos por roubo com arrombamento.

Passou 19 anos na prisão, pegando acréscimos de pena por tentativas de fuga. Sofreu de tudo lá, pés acorrentados, uma tábua para dormir, pancadas, corrente dupla por nada, calabouço por uma palavra e não fazia diferença nenhuma se estivesse doente. Questionava se ele havia sido o único que procedeu mal em sua história, tendo sido pego e confessado o crime, bem como o motivo pelo qual o cometeu, se não haviam exagerado no castigo aplicado. Se não houvera um maior abuso por parte da lei na aplicação da pena do que por sua falta.

Jean tinha muita raiva dentro de si. Havia muita indignação pela pena e pôr como fora tratado, sentia-se roubado pela justiça. Desde que entrara ali, desde os pais e a irmã, ninguém nunca se aproximou com um olhar bondoso ou um gesto de ternura, só se aproximavam para lhe fazer ainda mais mal. E de dor em dor, foi entendendo que a vida era uma guerra, e que ele perdia todas as batalhas. Só lhe restou o ódio, o qual a prisão alimentou e afiou.

Esse ódio era contra tudo e todos. Contra a lei, contra a sociedade, contra a humanidade e até mesmo contra a Criação. Como condenado, condenou ao seu ódio a sociedade que lhe causou o seu infortúnio, e tendo a Providência Divina criado a sociedade, condenou-a também.

Na prisão ele aprendeu a ler, escrever e a contar, elevou-se. Mas pela tortura e pela escravidão degradou-se. Ele não tinha uma natureza má, no entanto ali tornou-se maldoso e impiedoso, já não se importava com mais nada e nem ninguém. Não chorava há 19 anos. E foi assim que ele foi solto. Após cumprir sua pena, voltava para a sociedade carregado de ódio e em seu passaporte amarelo, classificado como um homem muito perigoso.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Os miseráveis” também nos apresenta a história de Fantine. Uma verdadeira incógnita. Ninguém sabia nada sobre ela, quem eram seus pais ou o que tinha acontecido com eles. Não carregava sobrenome pois não tinha família. Seu nome havia sido dado por alguém que a encontrou, ainda pequena, andando pelas ruas descalça. Aos 10 anos deixou a cidade onde morava para trabalhar na casa de uns sitiantes dos arredores. Aos 15 anos foi para Paris em busca de dinheiro. Se tornou operária de costura e trabalhava para viver. Se tornou uma moça linda.

No trabalho, tinha três amigas. As quatro se relacionavam com quatro rapazes, cada qual com seu amante. Tholomyès era o parceiro de Fantine, seu primeiro e único amor. Das quatro meninas, ela era a única que tratava apenas a um homem com intimidade. No entanto, o que para ela era paixão, para ele era apenas passatempo.  

Em um determinado dia, os rapazes resolveram fazer uma surpresa para as meninas. Um passeio repleto de comidas, bebidas e brincadeiras. Ao final do dia, eles se afastaram e pediram para que elas esperassem pela tal surpresa. Após uma hora esperando, elas receberam uma carta, onde dizia-se que eles haviam ido embora para sempre, deixando-as ali. Todas riram da situação, afinal todos estavam apenas se divertindo, a exceção de uma. Fantine chorou sozinha em seu quarto, e não apenas porque o seu amor havia partido, mas principalmente porque ela esperava por uma criança.

Após o abandono, 10 meses se passaram. Não havia nenhum contato entre as meninas, mostrando a frágil amizade que tinham. Fantine ficou completamente só. Tentou escrever cartas ao pai da criança, mas ele nunca respondeu. Acabou saindo do trabalho e ficando sem recursos. Mal sabia ler e quanto a escrever, sabia apenas o próprio nome.

Na esperança de encontrar algo melhor, resolveu voltar para a cidade onde nasceu, Montreuil-sur-Mer, mas não poderia aparecer com uma criança e sem marido. Encontrou um casal com quem deixar sua bebê até que ela pudesse se reestabelecer e voltar para buscá-la. Deixou todo o enxoval de bebê e os poucos trocados que lhe restavam, combinando de pagar um valor por mês para que a criassem.

Quando chegou em sua cidade natal, ninguém ali se lembrava dela. Conseguiu um emprego na fábrica de miçangas e tentava ajeitar a sua vida. Alugou um cantinho e comprou mobílias, tendo em vista que agora que estava empregada, teria dinheiro para cobrir o aluguel e a prestação dos móveis. Mas vizinhos curiosos, que se acham na obrigação de saber sobre a vida dos outros, bem como de julgar a moral da vida alheia, questionavam quem ela era, de onde vinha e porque vivia mandando cartas a alguém. Conseguiram descobrir um endereço e um nome, foram até lá e viram a menina, a filha deixada aos cuidados de outros. Seguiram até a fábrica para contar, e o tal fato ferindo a moral e os bons costumes, Fantine foi demitida.

Passou a ser excluída da sociedade. Costurava camisas grosseiras para os soldados da guarnição para ganhar uns poucos trocados, desse pouco tirava o que custeava a filha, e para si não sobrava praticamente nada, mas nem sempre tinha serviço. Foi sua vizinha, já velhinha, que lhe ensinou a arte de viver na miséria, pois existe o viver com pouco e o viver com nada. Fantine precisou aprender o segundo jeito, para continuar sobrevivendo e mantendo sua filha bem cuidada.

A pobre mulher chegou a extremos inimagináveis. Sofreu muitos maus tratos, físicos, verbais e morais, e dificilmente questionava, pois achava justo o que lhe acontecia. Sofreu ainda mais, aceitou o que não podia mudar e tornou-se indiferente diante da própria vida, seguia apenas para conseguir algo para sua filha. Sofreu ainda mais, desprezo era só o que recebia.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Os miseráveis” também nos apresenta o Bispo Myriel, que morava apenas com sua irmã mais nova e com uma criada. Recebia do Estado um ordenado, mas mais da metade era destinado a diversas caridades, vivia uma pobreza voluntária. Não condenava nada apressadamente e tão pouco sem levar em conta as circunstâncias. Bondoso para com as mulheres e com os pobres, pois acreditava que sobre esses recaia o peso da sociedade humana. Além de todos os seus ofícios, ele se dedicava aos aflitos, enfermos e necessitados, tinha por sua missão guardar as almas do povo mais do que guardar por sua própria vida.  

Madeleine, um homem que havia aparecido em Montreuil-sur-Mer, com uma ideia engenhosa e um pouco de dinheiro, fazendo ali sua fortuna, bem como a fortuna de toda a cidade, através das duas fábricas que construiu ali. Ninguém sabia nada sobre ele, mas gostavam muito dele. Era um homem bom, mas carregava um ar de preocupação. Pensava muito nos outros, a maior parte do seu lucro era destinado a própria cidade e também aos pobres. Mais leitos em hospitais, farmácia gratuita, escolas cujos professores ele que pagava o salário e até asilos. O próprio povo lhe suplicou que se tornasse prefeito. Um homem rico que não aparentava orgulho, um homem feliz que não aparentava estar contente.

Javert, um homem que nascera em uma prisão, filho de uma cartomante que tinha o marido preso. E à medida que crescia, pensava estar fora da sociedade e era desesperado para fazer parte dela. Sob sua visão, existiam duas classes de homens, os que atacam e os que protegem. Com ódio da raça a que se julgava pertencer, dado a sua origem, ele entrou para a polícia e tornou-se inspetor. Ele tinha dois bons sentimentos, mas esses acabavam se tornando maus por conta do exagero, o respeito a autoridade e o ódio a rebelião. Tinha uma fé cega por todos que possuíssem uma função no Estado e na mesma medida um desprezo cego por quem tivesse, uma vez que seja, ultrapassado os limites da lei.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Os miseráveis” também nos apresenta os Thénardiers, um casal de estalajeiros, que moravam em Montfermeil. O homem contava que havia sido soldado, tinha até pintado um quadro do que ele dizia ser um dos seus atos de bravura, a mulher, uns doze anos mais nova que ele, era bem ciumenta. Eles não eram bons. Percorriam as estradas em cima de uma carroça velha, seguindo tropas, buscando se juntarem ao exército vitorioso e roubando dos mortos que ficavam para trás. Dinheiro de bolsas e relógios, anéis de ouro e cruzes de prata, foi assim que eles abriram a estalagem que administravam.

Gostavam de tirar vantagens sobre qualquer situação, principalmente no que envolvia dinheiro. A mulher fazia tudo o que o marido mandava, ambos chegando à perversidade. Tinham duas filhas, Éponine e Azelma, a elas, a mãe dedicava todo o amor e cuidado.

Cosette, uma garotinha que desconhecia sua própria história, que não brincava e nem sorria. Aos 5 anos foi feita de empregada, cresceu vestindo farrapos e comia a mesma sobra que os animais, inclusive no mesmo lugar que eles, embaixo da mesa. Apanhava fisicamente e verbalmente. Era uma criança inocente, carente de afetos e cuidados, que carregava tristezas profundas em seus olhos.   

Fauchelevent, um homem que morava em Montreuil-sur-Mer, antigo tabelião e camponês quase letrado, tinha um comércio que ia mal, principalmente quando novas fábricas foram instaladas na cidade. Até tentou prejudicar os novos negócios, mas quem acabou indo à falência foi ele. Já velho e sem família ou filhos, virou charreteiro para ganhar a vida, pois isso era tudo o que possuía, uma charrete e um cavalo. Após um acidente, onde perdeu o pouco que tinha, foi encaminhado para um convento, onde foi cuidado e onde também cuidou. Era um homem já desgastado pela falta de sorte, mas era bom e muito espontâneo.

Os miseráveis” também nos apresenta Gavroche, um menino de onze a doze anos, uma criança errante que vagava por Paris. Ele tinha pais, mas o pai não queria saber dele e a mãe não o amava. Eles o jogaram na vida com um pontapé, e o pequeno de boa vontade alçou o seu próprio voo. Um fugitivo de uma família pobre. Ele se sentia bem na rua, as calçadas lhe pareciam menos duras do que o coração de sua mãe.

Muito em seu corpo sofria, visto que era mal alimentado e mal cuidado, mas seus olhos eram lindos por conta do seu espírito. Alguém por caridade o vestia em farrapos. Ele era irônico e atrevido. Barulhento, ágil e cheio de malícia. De aspecto doentio e vivaz ao mesmo tempo. Ia e vinha cantando por onde passava. Não tinha casa, nem como se aquecer, não tinha o que comer, nem sequer amor, mas ele não sofria por tudo ser dessa forma, e nem queria o mal de ninguém. Ele era feliz, porque era livre.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Georges Pontmercy, soldado que servira nos exércitos da República e do Império. Barão que lutou ao lado de Napoleão Bonaparte em Waterloo. Em sua última batalha em campo, acreditava ter tido a vida salva por um sargento a quem entregou sua gratidão. Na época, já era viúvo, mas sua esposa havia lhe deixado um filho, e esse pequeno era toda a sua alegria.

No entanto, em meio a uma intriga com o avô da criança, que reclamava o direito de ter o neto, sob a ameaça de que se não o tivesse, o deserdaria, Pontmercy acaba cedendo, pensando no melhor para o seu filho. Com o avô proibindo o contato entre eles, lhe restava apenas ir para a igreja, nos mesmos dias em que a criança ia, e ali, das sombras, ver e amar o filho de longe, mesmo que o pequeno sequer desconfiasse.

Pontmercy vivia só, silenciosa e pobremente, em uma casa humilde. Não tendo o filho, se voltou para as flores. Criou um lindo jardim que recebia visitantes apenas para apreciar a sua beleza. Raramente saia de casa e não via muitas pessoas. Conheceu um padre em suas idas a igreja, com quem compartilhou sua história e de quem recebeu amizade.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Gillenormand, um homem já velho, mas que tinha uma saúde invejável. Burguês que odiava os republicanos. Tinha todos os preconceitos e tomava todas as liberdades. Era superficial e se irritava facilmente. Fazia tempestades por nada, levantando sua bengala e batendo nas pessoas, mas também tinha seus momentos de tranquilidade, alegria e quando queria até mesmo de bondade. Havia sido casado por duas vezes, casamentos esses que lhe renderam duas filhas, uma de cada mãe.

Suas filhas eram bem diferentes uma da outra. A mais nova era encantadora, voltada para tudo o que era de luz, casou-se por amor. Já a mais velha, carregava uma severidade moral, um pudor elevado ao máximo, permaneceu solteira, e era ela quem morava com o pai, cuidando da casa.          

E por último, “Os miseráveis” nos apresenta Marius, um menino saudável, de olhar feliz e confiante. Cresceu em ambientes onde constantemente ouvia o pai sendo chamado de bandido de Loire, entre outros maldizeres e era tudo o que sabia. Seu único contato com ele era através de cartas que, por duas vezes ao ano, lhe ditavam o que escrever ao pai, mas nunca recebia cartas de volta. Aqueles que cuidavam dele, o criaram ao seu modo, inclusive sob preceitos religiosos e políticos. Fez todos os anos do colégio e em seguida entrou para a escola de Direito. Se tornou um adulto realista e um tanto fanático, mas também digno e generoso. Havia nele uma certa pureza.

Um dia recebeu uma carta do pai, dizendo que precisava com urgência ir vê-lo. Um trabalho extremamente desagradável para Marius, além de acreditar que o pai não o amava, tendo crescido como e com quem cresceu, tinha desavenças políticas em relação a ele, bem como não sentia amor algum. Ainda assim, ele foi ao seu encontro.

Quando chegou até onde o pai morava, este já havia falecido, sem que pudesse ter se despedido do filho. Marius se sentiu estranho naquele lugar, diante daquele corpo, pois não havia vínculo algum entre eles, ele sequer conhecia aquele homem. Recebeu de herança apenas uma carta, que carregava uma honraria e um pedido, mas para ele não fez diferença nenhuma, até o dia em que pisou em uma certa igreja.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Marius conheceu a história de seu pai, conheceu toda a verdade. Conheceu um homem totalmente diferente da imagem que lhe passaram quando criança. Conheceu um homem raro, sublime e afável. Tudo se transformava dentro dele, de seu coração até a sua alma. Quanto mais se aproximava de quem foi o seu pai, mais se distanciava daqueles que o criaram. Até que acabou saindo de casa.

Enquanto tentava viver por conta própria, Marius teve que lidar com a pobreza. Se privando de muitas coisas, comendo pouco e as vezes bem pouco, ajustando e reajustando as mesmas roupas, mas foi se ajeitando com o tempo. Conseguiu um emprego onde fazia traduções do alemão e do inglês, línguas que aprendeu justamente para poder ganhar um pouco de dinheiro para sobreviver. Conheceu algumas pessoas, mas de poucos se tornou amigo. Revirava muitas questões dentro de si, sobre o mundo em que estava vivendo, sobre a vida e sobre si mesmo, tentando encontrar a própria história e a própria identidade.

A trama toda de “Os miseráveis” se desenrola entre prisões e conventos, barricadas e atos de sacrifício, ódio e amor, justiça e misericórdia, entre um grupo de amigos que tem por finalidade representar e reerguer o povo e um grupo de bandidos que visam apenas o próprio interesse, se desenrola das ruas até os esgotos de Paris.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

A história de todos esses personagens se cruza, ainda que nem todos se conheçam, pois há um entrelace de vidas gerado por más e boas ações. As escolhas que cada um faz diante de uma situação ou diante de alguém, reverberam e transformam caminhos, vidas e almas. Jean Valjean é quem tem o principal e certamente mais lindo arco de toda a narrativa, mas todos eles enfrentam sua própria jornada e algumas são profundas, puras e belamente tristes, a ponto de que ao acompanhá-las, nós leitores, também temos algo transformado em nós.

Victor Hugo, através dos personagens, simbolizando-os, explora as diversas facetas que a miséria e a humanidade possuem. Vemos a miséria da fome, do frio, do abandono e do afeto. Vemos a miséria da violência, física, psicológica, social e moral. E vemos a miséria da indiferença, de espírito e de consciência. De contrapartida vemos a coragem e a resistência humana, lutando por justiça e liberdade. Vemos o respeito, a bondade e a misericórdia. Vemos a esperança e humanidade que não se quebra, nem mesmo diante da mais cruel tortura. Vemos o retrato da inocência, da pureza e da compaixão, mesmo em meio a todo o caos.

Os miseráveis” também é uma grande e interessante crítica sobre como a estrutura social produz todas as misérias que assolam a sociedade. Através das desigualdades, das injustiças, das muitas hipocrisias morais, da violência institucional ou mesmos através de recursos mal aproveitados, o autor acredita que daí resulta-se o mal. Ele não vê o mal como algo inerente, mas sim produzido pela sociedade, cada vez que essa nega o mínimo de oportunidades e dignidade, principalmente aos mais vulneráveis. O autor nos faz questionar sobre se a lei sozinha é ou não capaz de garantir a verdadeira equidade.

Sem Titulo 6
Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Nessa luta entre o bem e o mal, há uma fronteira muito complexa, que nos leva a olhar circunstâncias e intenções. Que nos coloca frente a rigidez da lei e frente a compaixão humana. Para o que há perdão? Para o que há misericórdia? A quem cabe decidir sobre o recomeço na vida de outro alguém? Até onde a justiça de fato é justa? O amor e a empatia podem realmente reescrever o destino de alguém, a ponto desse cair de joelhos em redenção?

O livro “Os miseráveis”, como ele próprio diz, é do princípio ao fim, no todo ou em seus detalhes, uma caminhada do mal para o bem, do injusto para o justo, do falso para o verdadeiro, da noite para o dia, do apetite para a consciência, da podridão para a vida, da bestialidade para o dever, do inferno para o céu, do nada para Deus. O ponto de partida é a matéria, o ponto de chegada é a alma. Hidra no início e anjo no fim.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Victor Hugo escreve com a grandiosidade de um poeta, o que é encantador e extremamente tocante, e também com a rica precisão de um historiador, o que pode agradar a uns e nem tanto a outros, quando se depararem com as cenas mais longas e descritivas. Há quem diga que há muitas partes que podem ser retiradas ou resumidas neste livro, que não são tão importantes para a história contada. Sendo bem sincera, me perdi um pouco aqui e ali nas partes mais históricas, mas me pergunto se a história contata teria me tocado tanto quanto tocou caso os fatos históricos não tivessem sido descritos, podem parecer aleatórios, mas tudo faz parte da construção do contexto, dos personagens e das escolhas feitas por eles, bem como das reflexões que surgem a partir de tudo.

Os miseráveis” é uma história densa e sombria, carregada de dores, mas também atravessada por luz e esperança, uma história que carrega o poder da transformação. É um manifesto em defesa da humanidade, que nos obriga a olhar para os rejeitados e esquecidos dentro de uma sociedade, não como números ou por seus estigmas, mas como pessoas. Nos desafia a enxergar o que há de mais belo na humanidade, mesmo em meio ao caos, a dor e a morte. E nos faz confrontar as nossas próprias convicções sobre justiça, fé e essência humana.

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Frase do livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo

Os miseráveis” é uma verdadeira experiência literária que desafia nossa sensibilidade e nossa consciência, atravessa o coração, lembrando que a grandeza humana nasce do amor, da compaixão e da capacidade de compreender o outro, e assim como transformou a alma de alguns dos seus personagens, também transforma a nossa. Se interessou? Dá uma chance. Leia e depois venha aqui me contar o que achou.

  • ATENÇÃO, ANO CORRETO DO EXEMPLAR: 2021. Enquanto houver lugares onde seja possivel a asfixia social; em outras palavras,…

Curiosidades

Victor Hugo levou cerca de 17 anos para concluir a obra “Os miseráveis”. Uma parte do livro foi escrita durante o exílio político pelo qual passou na ilha de Guernsey, lugar onde viveu após se opor ao regime de Napoleão III. Publicado em 1862, vendeu milhares de cópias em pouco tempo, gerando intensos debates políticos e morais. Foi lido por intelectuais e por trabalhadores, algo bem difícil para a época.

“Os Miseráveis” teve muitas adaptações ao longo dos anos e em diversas mídias, teatro, televisão e cinema, até mesmo outros formatos de literatura, como os quadrinhos. Uns retratam a obra original e outros exploram diferentes abordagens e enfoques sobre a história.

Nas adaptações literárias de “Os miseráveis“, as mais famosas que encontrei foram da L&PM Editores, da Editora Moderna, por Walcyr Carrasco e da Editora Principis, por Luciano Saracino e Fábian Mezquita. Nos teatros, a versão mais famosa é o musical britânico de 1980, criado por Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil, um fenômeno mundial.

Na televisão, a adaptação mais famosa que encontrei foi a minissérie da BBC, produzida de 2018 a 2019, com 6 episódios. Conhecida por sua fidelidade ao texto original. E para o cinema, as mais famosas adaptações de “Os miseráveis” que eu encontrei, foram o filme de 1935, dirigido por Ryszard Bolesławski, o filme de 1952, dirigido por Lewis Milestone, o filme de 1995, dirigido por Claude Lelouch, o filme de 1998, dirigido por Bille August e o filme musical de 2012, dirigido por Tom Hooper.

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