
Filme: Os miseráveis
Direção: Tom Hooper
Produção: Tim Bevan; Eric Fellner; Debra Hayward e Cameron Mackintosh
Roteiro: William Nicholson
Produtora: Working Title Films; Cameron Mackintosh Ltd e Relativity Media
Baseado em: Livro “Os miseráveis”, de Victor Hugo
Ano de lançamento: Dezembro de 2012
Tempo de duração: 2h38
Classificação indicativa: 14 anos e acima
Onde assistir: PrimeVideo; YouTube
Sinopse
Ambientado na França do século 19, “Os miseráveis” conta uma envolvente história de sonhos destruídos e amor não correspondido, paixão, sacrifício e redenção – um eterno testamento da sobrevivência do espírito humano. Hugh Jackman é o ex-prisioneiro Jean Valjean, caçado durante décadas pelo implacável Javert (Russel Crowe), depois de violar a liberdade condicional. Quando Jean Valjean aceita cuidar de Cosette, filhinha da operária Fantine (Anne Hathaway), suas vidas mudam para sempre.
“Os miseráveis” é uma adaptação cinematográfica do diretor Tom Hooper, baseado no musical que conta a história criada por Victor Hugo. A adaptação ganhou 3 Oscars e 3 Globos de Ouro.
Filme “Os miseráveis”
Mas lembre-se disso, meu irmão, vejo nisso um plano maior, deve usar esta prata preciosa para se tornar um homem honesto. Pela testemunha dos mártires, pela paixão e pelo sangue, Deus te levou das trevas. Salvei sua alma para Deus
O filme “Os miseráveis”, dirigido por Tom Hooper, é uma verdadeira experiência sonora, visual e emocional. É uma adaptação do musical da Broadway, de muito sucesso, inspirado na obra magnífica e extremamente humana de Victor Hugo. O filme entrelaça a música a sentimentos e pensamentos, tal qual a vida dos personagens são entrelaçadas, transformando a dor, a vergonha, a compaixão, o perdão, os sacrifícios, as preces e o amor em poesia.
“Os miseráveis” começa em 1815, 26 anos após o início da Revolução Francesa, que é a ambientação da maior parte da história, um povo que vive de muitas misérias, mas que luta pela justiça e pela liberdade. Conhecemos então, Jean Valjean, um condenado que acaba de receber a sua condicional, uma ilusória liberdade, pois viverá para sempre sob o estigma do seu crime. Ainda que tenha sido preso apenas por roubar um pão para alimentar um sobrinho, dentro da cadeia ele se quebrou e se transformou conforme o tratamento que recebia, ali deixou de ser uma pessoa e passou a ser só mais um número.
Fora das grades, vagou pelas ruas buscando emprego e abrigo, sendo sempre rejeitado, até se deitar em frente a porta de um Bispo, que lhe acolheu, dando o que comer e onde descansar. Jean lhe pagou a bondade, roubando as pratas que encontrou na casa e fugindo, mas não demora até que seja encontrado. A polícia o leva diante do Bispo, pois ele alega que a prata havia sido dada a ele. O Bispo em sua benevolência, confirmou a mentira de Jean, lhe concedendo não só o perdão, mas também a liberdade, tocando e transformando, através de sua compaixão, a existência dele.
Sem entender para qual caminho está indo sua vida, principalmente diante de tal ato de bondade, Jean questiona seu crime e sua pena, questiona o ódio que carrega dentro si, ódio que tomou pela lei e pela sociedade que o condenou e o maltratou, ódio e dor que o transformaram a ponto dele mesmo duvidar se carregava uma alma. Questiona a Deus se isso seria mesmo possível, que aquele Bispo houvesse não só lhe tocado a alma, mas reivindicado ela a Ele. Diante da própria vergonha e, por que não, dá esperança de ser salvo, Jean decide mudar sua própria história, reformulando o seu destino.
Oito anos se passam e “Os miseráveis” nos mostra Jean sob nome e vida de Senhor Madeleine, o prefeito da cidade na qual mora, bem como dono da fábrica que faz a cidade toda prosperar. E ali temos o passado vindo ao seu encontro através de Javert, um inspetor da polícia que trabalhava na prisão onde ele esteve, um agente obcecado pela lei e pela ordem e que agora estava ali para trabalhar com o prefeito.
Em um primeiro momento, Javert não o reconhece e nem desconfia de nada, mas após ver o Senhor Madeleine salvando um homem, usando sua força física, algo em sua memória lhe traz a semelhança com um condenado que possuía a mesma força, condenado esse, que havia violado a condicional, e cujo qual, Javert havia feito da sua captura uma missão pessoal. Será possível agir tal qual a lei manda e ainda assim ser misericordioso?
Paralelamente, “Os miseráveis” nos apresenta a Fantine, uma operária que trabalha na fábrica do Senhor Madeleine, tira dali o sustento de sua filha, a pequena Cosette, que deixou sob os cuidados de um casal, até que pudesse reaver a menina, após ambas serem abandonadas pelo pai da criança. Quando outras funcionárias descobrem a existência de sua filha, ainda que elas próprias tenham os seus pecados, condenam a Fantine, não só contando o seu segredo, mas também especulando o que mais ela poderia fazer para obter dinheiro.
As funcionárias criam um rebuliço até que ela seja demitida em nome da moral e dos bons costumes, pois a mancha dela poderia recair sobre a vida de todas elas na fábrica. Sem trabalho e na rua, vivendo da exclusão da sociedade, Fantine se degrada aos poucos, fisicamente é marcada, emocionalmente é quebrada, e sua dignidade é posta à prova quando do outro lado existe apenas o peso de manter os cuidados de sua filha. A sonhos que não podem acontecer e há tempestades que não podemos prever.
Em os “Os miseráveis”, vemos uma situação nas ruas, quando um homem força o contato com Fantine e ela reage agredindo-o, Javert aparece, e tendo ela a imagem e vida que tem, ele decide levá-la presa por ter machucado um homem de alta classe. No entanto, o Senhor Madeleine também presencia a cena e decide intervir por ela. Ao conhecer sua história e sobre sua filha Cosette, faz sua missão pessoal ajudá-las.

Javert, incomodado com a situação, faz das desconfianças uma denúncia, Senhor Madeleine é Jean Valjean, mas recebe uma carta onde diz que Jean Valjean está em poder da justiça, pois foi pego e acusado por roubo. Acreditando ter cometido um engano e pesando sobre si mesmo a severidade da lei e da ordem sob a qual vive, confessa ao Senhor Madeleine seu erro, pedindo a sua exoneração.
Tendo esses fatos diante de si, qual caminho Jean irá tomar em “Os miseráveis”? Permitirá que outro homem seja condenado em seu lugar e então finalmente se ver livre da justiça? Assumirá quem é e então será preso novamente? Mas se for preso e quanto a sua promessa? E Fantine? E Cosette? Qual o peso da própria consciência?
A vida desses e dos demais personagens de “Os miseráveis” se entrelaçam em um enredo que nos fala, principalmente, sobre a alma humana, tal qual Victor Hugo faz com maestria em sua obra. O quanto uma alma humana é capaz de suportar as misérias da vida, físicas, sociais, morais, emocionais, seja lá qual for a faceta sob a qual elas resolverem se apresentar? O quanto uma alma humana pode se transformar diante do que vive e do que recebe do próximo ou da sociedade como um todo? Quantas almas podem ser salvas através de um gesto de bondade e compaixão? Todos são dignos de oferecer tal ato? Todos são capazes de suportar receber tal ato?
Cada personagem em “Os miseráveis” tem uma luta interna, que reflete a dualidade e a complexidade da condição humana, o errado e o certo, o castigo e o perdão, a lei e a humanidade, a severidade e a compaixão, a solidão e o amor, o desespero e a esperança. Nos levando em uma jornada de amor, misericórdia, fé, sacrifício e redenção, impossível de não se emocionar, seja diante da dor mais dilacerante exposta a pureza mais inocente apresentada.
A música não é apenas uma trilha sonora, a música é o filme. Os diálogos, os pensamentos, as dores expostas, as orações feitas, a luta pela liberdade, a resistência humana, tudo mostrado através de melodias tão conectadas aos sentimentos apresentados, que é impossível não se sentir tocado de alguma maneira, obviamente em algumas canções mais do que outras, mas isso vem de alguém que certamente não é muito fã de musicais. É uma experiência fascinante. E destaca-se aqui que “Os miseráveis” foi gravado com as vozes dos atores ao vivo no set, sem dublagem posterior.
Falando neles, o elenco está incrível, Hugh Jackman, como Jean Valjean, Russel Crowe, como Javert, Anne Hathaway (❤️), magnífica como Fantine, Amanda Seyfried, como Cosette, Eddie Redmayne (❤️), como Marius, Samantha Barks, talentosíssima como Éponine, Helena Bonham Carter (maravilhosa ❤️) e Sacha Baron Cohen, como o casal Thénardier, esses dois em especial, trazendo um alívio cômico em meio a todo drama.
Como toda adaptação, há algumas diferenças em “Os miseráveis” quanto a obra original, mas considerando a quantidade de páginas que o livro possui e as muitas histórias que ali são contatas, o filme se mantém muito semelhante a história de Victor Hugo, principalmente em sua essência. Acredito que para quem não leu o livro, possa parecer um pouco corrido alguns acontecimentos e algumas cenas até sem sentido, mas para quem conhece toda a história, até a lágrima que cai sem que nada seja dito, tem um peso emocional absurdo, justamente por conhecer o mundo por detrás de tais cenas.
“Os miseráveis” possui uma estética sombria enquanto nos apresenta um mundo de dores, e ganha cores mais quentes conforme a esperança se apresenta na história, e é carregado de um tom melodramático que pode agradar a uns e nem tanto a outros. No fundo, acredito, que não feito apenas para entretenimento, foi feito para se fazer sentir. Olhar de perto a dor humana, as escolhas bem como as circunstâncias e confrontar o que nós mesmos criamos enquanto sociedade.
Não é um musical leve e descontraído, é até um tanto caótico, mas é cru e verdadeiro ao mostrar alguns tentando sobreviver em um mundo que pouco oferece e muito pune, tentando resistir diante do que a vida exige para continuar e tentando encontrar um pouco de luz em meio a toda a escuridão que os cerca.
“Os miseráveis”, como eu disse, é uma experiência emocional absurda, que nos leva a culpa que pesa no peito e na consciência, ao perdão que liberta almas, a rigidez da justiça, a compaixão diante da miséria, a coragem para lutar por si e pelo seu povo, a capacidade de se reconstruir através do amor, bem como a capacidade de se desfazer por ele, a fé e a esperança que resiste diante do sofrimento e a bondade que toca e transforma vidas. No mínimo, você sai um pouco mais humano frente a essa história.
Assista e depois venha aqui me contar o que achou. E caso não tenha lido o livro “Os miseráveis”, eu recomendo muito, é daquelas histórias que são capazes que transformar a alma de quem lê.







4 Comentários
Eu também não sou muito fã de musicais, mas você me deixou com vontade de assistir, tenho interesse nessa história.
Vale a pena 😉
Você tem um talento especial para sintetizar a história e instigar a curiosidade de quem ainda não viu. Muito Top!
Obrigada 🥰
Espero que sacie sua curiosidade e que venha aqui me contar o que achou.