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Resenha do Filme: “Meu pé de laranja lima”

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Capa do filme Meu pé de laranja lima

Filme: Meu pé de laranja lima

Direção: Marcos Bernstein

Produção: Kátia Machado

Roteiro: Marcos Bernstein; Melanie Dimantas

Produtora: Pássaro Filmes

Baseado em: Livro “O meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcellos

Ano de lançamento: No Festival do Rio em 2012 e nos cinemas em abril de 2013

Tempo de duração: 1h39

Classificação indicativa: 10 anos e acima

Onde assistir: PrimeVideo; YouTube

Sinopse

Em “Meu pé de laranja lima”, Zezé (João Guilherme Ávila) tem quase oito anos e vive com sua família pobre no interior. Ele é sensível, ele é precoce, ele é um contador de histórias: ele é um problema! Seu esporte favorito é transformar sua casa e a vizinhança em cenário para suas traquinagens. E elas não são poucas. Seu refúgio preferido é um pé de laranja lima. É com ele que desabafa as coisas ruins que lhe acontecem, divide sua solidão ou comemora uma boa novidade, como a amizade com Manoel Valadares, o “portuga” (José de Abreu). Amizade que fará com que Zezé dê a Manoel um mundo de fantasias e criatividade que ele nunca imaginou possível.

“Meu pé de laranja lima” é uma história de amor e amizade tão tocante quanto o mais improvável dos encontros.

Filme “Meu pé de laranja lima” (2012)

A emocionante e dolorida história de Zezé

“Meu pé de laranja lima” é uma adaptação cinematográfica, dirigida por Marcos Bernstein, de um dos livros mais tocantes da nossa literatura brasileira, a autobiografia escrita por José Mauro de Vasconcelos. A história gira em torno de Zezé, um menino de quase 8 anos (5 para seis anos no livro), cheio de imaginação e traquinagens, que encontra em um pequeno pé de laranja lima do quintal e na amizade com o “Portuga” um refúgio para as dores da infância marcada pela dureza da vida, suas dificuldades familiares e sociais.

O filme “Meu pé de laranja lima” tenta transmitir em imagens e diálogos toda a sensibilidade da obra original, equilibrando os momentos de ternura e drama em uma narrativa que fala sobre a inocência da criança, as dificuldades sociais, descobertas nem tão doces sobre a vida adulta e um amadurecimento precoce. É daqueles filmes que marcam e ficam na memória de quem assiste, certamente fazendo refletir sobre o quanto adultos podem quebrar uma infância.

Zezé, interpretado nas telas por João Guilherme Ávila, é um garoto extremamente inteligente, curioso e com muita imaginação. Vive em uma família numerosa, que passa por muitas dificuldades através da extrema pobreza. Por conta disso, esse pequeno garoto acaba enfrentando situações que o fazem lidar com uma realidade e sentimentos que uma criança não deveria conhecer.

Em meio a pobreza, que o faz trabalhar desde cedo, a falta de afeto e a violência doméstica, verbal e física, que sofre nas mãos de seu pai e da maior parte dos seus irmãos, Zezé acaba conhecendo uma realidade muito dura e dores que marcam mais que as surras que leva o seu pequeno corpo, chegando a questionar o porquê ninguém gosta dele.

Como lutar contra tudo isso? Resistindo através da imaginação. O filme “Meu pé de laranja lima” tenta trazer para as telas como tudo se passa dentro da cabeça de Zezé,  bem como no livro, que é narrado sob a ótica da criança, mostrando o olhar infantil sobre tudo o que acontece a sua volta, como uma criança enxerga e interpreta o mundo ao seu redor.

Em uma das mudanças de casa que sua família precisou fazer, no fundo do quintal, Zezé encontrou um pequeno pé de laranja lima e fez dele seu amigo. Dentro de sua imaginação, através dessa amizade, ele criou histórias e viveu aventuras, cavalgou por terras e terras, conhecendo o mundo. E na fantasia encontrou uma maneira de escapar das dores do dia a dia, fazendo daquele pequeno pé de laranja lima um refúgio, onde depositava suas alegrias e confidenciava seus males. Um amigo imaginário que o ajudava a lidar com a vida real.

Meu pe de laranja lima 7
Cena do filme “Meu pé de laranja lima”, dirigido por Marcos Bernstein, com João Guilherme Ávila interpretando o personagem Zezé brincando com o pequeno pé de laranja lima.

Mas nem tudo na vida de Zezé é imaginação, há outra amizade que ganha valor sob o olhar da criança. Manoel Valadares, ou “Portuga”, interpretado nas telas por José de Abreu, é um homem generoso que mora sozinho (sua filha vive em Portugal e ele não possui netos), e que acaba por ganhar um papel especial na vida da criança.

No filme “Meu pé de laranja lima”, enquanto Zezé oferece a essa amizade um mundo de imaginação rico em detalhes, encantamentos e muitas aventuras, o “Portuga” oferece a ele um lugar de afeto, cuidado e segurança. Não só acolhe suas dores, compreendendo o seu lado, mas também o ensina e o orienta quando faz algo de errado. Com ternura, ele não só valida a existência da criança, mas também a salva.

Ainda que através dessa amizade Zezé venha a conhecer outros tipos de dores, daquelas que marcam alma, e que certamente fazem com que ele amadureça ainda mais, há de se questionar: “Onde estaria Zezé se nunca tivesse recebido e compreendido o que é ternura?”.  Pequenos são os gestos, grandes são as mudanças.

O filme “Meu pé de laranja lima” nos leva a refletir sobre muitas coisas, a pobreza e as dificuldades sociais, a violência doméstica e a ausência de uma presença afetiva, o existir das crianças, a imaginação e o olhar delas sobre a vida, o amadurecimento precoce, a amizade e o poder de transformação que essa tem sobre qualquer um. Bem como nos leva a uma oportunidade de redescobrir a força das pequenas coisas ou das coisas mais simples, como a ternura. O quanto dedicamos dela por ai, em olhares ou gestos, para pessoas ou mesmo para um pequeno pé de laranja lima.

Marcos Bernstein construiu um bom filme, traz algumas mudanças em relação ao livro “O meu pé de laranja lima”, tendo em vista que a narrativa para o cinema precisa ser mais condensada, por isso alguns trechos foram mais simplificados ou tiveram menos destaque. Mas ele traz a adaptação cinematográfica toda a essência e sensibilidade do original, fazendo-nos sentir o desconforto reflexivo que fizeram da obra de José Mauro de Vasconcelos um clássico atemporal.

Assista e depois venha aqui me contar o que achou. E caso não tenha lido o livro “O meu pé de laranja lima”, eu recomendo muito, é daqueles que nos marcam para sempre.

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